Polícia Federal flagra estrangeiro tentando embarcar 18 aves silvestres para a França: o retrato da falência do sistema ambiental brasileiro
Caso em Santa Catarina expõe a fragilidade da fiscalização e o desequilíbrio entre repressão ao tráfico e perseguição ao criador legalizado
A Polícia Federal apreendeu, no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, 18 aves silvestres que haviam sido embarcadas em Santa Catarina por um homem de nacionalidade belga com destino à França.
Na mala do estrangeiro, as autoridades encontraram espécies nativas brasileiras, como tangarazinhos, sairas-sete-cores, sairas-douradinhas, sairas-militar e sairas-da-terra, todas transportadas em condições precárias e com sinais de debilidade.
Segundo a PF, o cidadão europeu, que já havia estado no Brasil pelo menos 11 vezes desde 2023, pretendia levar as aves vivas para colecionadores na Europa, configurando crime contra a fauna e tráfico internacional de animais.
O flagrante aconteceu durante uma ação de apenas dois dias de fiscalização intensiva, o que levanta uma pergunta incômoda: quantos pássaros não passam pelos aeroportos brasileiros quando não há esse tipo de operação especial?
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Da omissão à hipocrisia: enquanto o tráfico floresce, os criadores legalizados são perseguidos
O episódio reacende um debate antigo e doloroso no país: a ineficiência das autoridades ambientais diante do tráfico internacional de aves, enquanto criadores devidamente registrados e fiscalizados são tratados como criminosos.
Para o presidente da Federação Internacional dos Criadores (FIC), Nelson Arrué Silveira, o problema está na inversão de prioridades:
“Enquanto o IBAMA e os órgãos ambientais estaduais aplicam multas milionárias e apreendem aves de criadouros legalizados por supostos erros de anilhas, traficantes embarcam aves nos aeroportos sem que ninguém perceba. Essa perseguição ao criador cadastrado empurra muitos para a informalidade. O Estado cria o problema que diz combater.”
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Responsabilidade compartilhada e a omissão das instituições
A Lei Complementar nº 140/2011 estabelece que a responsabilidade pela proteção da fauna é compartilhada entre União, Estados e Municípios. No entanto, quando casos como esse vêm à tona, todos se calam: IBAMA, secretarias estaduais de meio ambiente e agências fiscalizadoras.
“Se em apenas dois dias de fiscalização foi possível interceptar um europeu levando 18 aves, imagine o que não sai do país no restante do ano. A estrutura de controle está falida. Brasília, onde está sediado o IBAMA, é hoje um dos maiores refúgios do tráfico de animais, sob o próprio nariz da instituição que deveria combatê-lo”, critica Arrué.
Milhões gastos com ONGs e projetos internacionais: o caso da Ararinha-Azul
O presidente da FIC também questiona o destino dos recursos públicos aplicados em projetos internacionais, como o da Ararinha-Azul, espécie símbolo do Brasil que foi praticamente dizimada na natureza e hoje é controlada por instituições estrangeiras e ONGs.
“Quantos milhões o Brasil já gastou para trazer de volta as ararinhas que estão em mãos estrangeiras? Enquanto isso, aqui dentro, quem cria de forma sustentável e com amor é tratado como inimigo. Essas ONGs se intitulam donas da nossa fauna, mas ignoram o sofrimento dos criadores que sempre preservaram nossas espécies”, enfatiza.
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Hora de rever a Resolução CONAMA nº 394/2007
Arrué defende que o governo federal e o CONAMA revisem com urgência a Resolução 394/2007, que define as espécies permitidas para criação e comercialização no país.
Segundo ele, a norma, que já completou 18 anos — a “maioridade” da criação regulamentada, precisa refletir a nova realidade ambiental e socioeconômica do Brasil.
“A criação doméstica e comercial movimenta milhões em impostos, empregos e genética. É hora de construir um verdadeiro Pacto Ambiental Brasileiro, em que criadores, veterinários e o Estado trabalhem juntos. Criminalizar o criador é abrir as portas para o traficante”, conclui o presidente da FIC.
Conclusão: entre o descuido e a seletividade
Enquanto autoridades fazem vistas grossas ao tráfico internacional, preferindo atacar quem está cadastrado e identificado, nossa fauna continua escapando pelos aeroportos.
O caso do cidadão belga é apenas um retrato do que acontece há décadas: o Brasil perde suas aves, seu patrimônio genético e sua soberania ambiental — e ainda paga caro para tentar recuperá-los com ajuda de ONGs estrangeiras.
Federação Internacional dos Criadores (FIC)
Por um Brasil que protege sua fauna com razão, não com repressão.
Matéria: Léo Silveira
