Fracasso Ambiental do Rio Grande do Sul

Da Proibição ao Descaso: Um Retrato da Má Gestão Ambiental

O Rio Grande do Sul vai de mal a pior na condução de sua política ambiental.

Em 2021, foi lançada a Instrução Normativa nº 07, que proibiu a criação de bicudos e cardeais-amarelos em ambiente doméstico. Essa decisão consagrou a falta de informação e preparo do órgão ambiental: impedir a reprodução de duas espécies ameaçadas de extinção, que sobreviviam graças à criação em cativeiro, foi um contrassenso.

Voltando a 2015, um exemplo grave: mais de 15 casais de cardeais-amarelos foram solicitados ao Criadouro Comercial Butiá, de um renomado criador. Técnicos ambientais recolheram os animais alegando proibição da reprodução. O resultado: o criadouro ficou sem matrizes reprodutivas — um erro absurdo que comprometeu a manutenção da espécie.

Em 2022, após articulação do então presidente da Federação dos Criadores, Nelson Arrué, foi solicitada uma reunião emergencial com o governador. O resultado foi a exigência de uma nova Instrução Normativa, publicada em 06/07/2022 e complementada pela IN nº 04. No entanto, apesar das reuniões com as entidades representadas pela Federação, o texto final contemplou apenas 40% do que havia sido tratado e prometido aos criadores. Restrição no número de nascimentos, na quantidade de matrizes — e, mais uma vez, nada do que havia sido acordado foi cumprido.

Em 2025, quatro empreendimentos comerciais (criadouros) aguardam homologação desde 2022. Esses espaços poderiam, sob responsabilidade de veterinários e zootecnistas, abrigar animais até a devolução à natureza. Porém, surgiram insinuações e acusações de desvio de animais, mesmo com toda a documentação legal em mãos — muitos desses animais foram encaminhados à soltura pelo Programa Asas.

Ainda em 2025, houve leilão de animais do zoológico, novamente sem consulta pública e sem documentação homologada. Após o ex-governador Sartori extinguir a Zoobotânica e o Zoológico, ambas ficaram sem CNPJ e sem autorização de manejo — “ninguém era dono de nada”. A Federação avisou, mas foi ignorada.

O Rio Grande do Sul virou notícia no Brasil e no exterior devido ao Programa Guardiões da Fauna — anunciado como solução para proteger animais silvestres, mas sem contar com zoológicos ou centros de triagem preparados para recebê-los.

O que dizem os dados oficiais?

  • Segundo a Sema RS, o programa admite que cada guardião possa acolher até cinco animais, com ampliação para até dez no caso de aves  .
  • Estima-se que cerca de 150 animais estejam aptos a entrar no programa — um número que pode variar conforme a condição clínica dos indivíduos  .
  • O objetivo declarado é desafogar os Centros de Reabilitação, que são apenas pontos de passagem para cuidados veterinários  .

Mesmo diante dessas metas, o Estado não tem para onde levar os animais apreendidos — os locais oficiais de acolhimento permanecem insuficientes, enquanto criadouros regulares e estruturados continuam retidos por burocracia.

Isso gera consequências graves:

  • Superlotação de espaços improvisados;
  • Risco sanitário elevado;
  • Mortes que poderiam ser evitadas com infraestrutura adequada.

O que vemos é um ciclo que se repete:

  • Programas de “adoção” de animais sem estrutura;
  • Zoológicos e criadouros levam anos para liberar autorizações;
  • Projetos improvisados distribuem animais sem preparo técnico, enquanto o tráfico cresce;
  • Falta de coordenação e qualificação técnica por parte do governo.

O Rio Grande do Sul segue sem rumo e vai de mal a pior no cuidado com seu patrimônio natural. Até quando essa ineficiência persistirá?

Que Deus nos abençoe — acusar como Judas é fácil, mas cuidar do meio ambiente é para poucos.

Texto Nelson Arrué

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